05. História do azulejo/ History of azulejo

Azulejo é a palavra portuguesa que designa uma placa cerâmica quadrada com uma das faces decorada e vidrada. Deriva de uma palavra árabe (al zulej) que significa pedra lisa e polida.

O azulejo é um elemento identificativo da Cultura portuguesa, revelando algumas das suas matrizes profundas:
1. A capacidade de diálogo com outros Povos, evidente pelo gosto por Exotismos em que aos temas de uma cultura europeia se misturam, por exemplo, os das culturas árabes e indianas.
2. Um sentido prático, revelado no uso de um material convencionalmente pobre; o azulejo, como meio de qualificação estética dos espaços interiores dos edifícios e dos espaços urbanos.
3. Uma específica sensibilidade que em Portugal se orienta mais para valores de Sensualidade do que de Conceito, manifesta logo pela preferência de um material colorido, reflector de luz, pela expressão imediata da pintura, e a escolha das próprias imagens mais centrada na descrição do real. No seculo XIX o azulejo começou a ser utilizados como revestimento barato dos edifícios.

A história da azulejaria portuguesa

Durante a ocupação árabe da Península Ibérica os povos ibéricos tomaram contacto com a cerâmica mural e até finais do Séc. XV, os artífices andaluzes produziam grandes placas de barro cobertas de vidrado colorido uniforme que, uma vez cozidas, cortavam em fragmentos geométricos que eram depois combinados de forma a obter desenhos decorativos.
Este processo era conhecido pelo nome de “alicatado”. Demorado e difícil, exigia que o artífice acompanhasse a encomenda até ao local da sua aplicação.
Vide exemplares no Palácio de Sintra http://www.ippar.pt/monumentos/palacio_sintra.html.


No final do Séc. XVI a transformação da técnica levou ao aparecimento do azulejo tal como o conhecemos hoje: uma placa de barro quadrangular com uma face vidrada lisa ou decorada com desenhos coloridos.

No entanto, a separação das cores na superfície vidrada levantava problemas porque as substâncias utilizadas eram hidro-solúveis e misturavam-se na fase de aplicação e na cozedura. Como solução utilizava-se um separador, uma barreira gordurosa constituída por óleo de linhaça e manganês. Esta técnica, conhecida pelo nome de "corda seca" associava-se quase sempre a uma elevação em "aresta" da superfície do barro, que funcionava como barreira mecânica nas zonas de separação dos vidrados.

Os azulejos de "corda seca" e de "aresta" ficaram na história com o nome de mudejares, hispano-árabes ou hispano-mouriscos. Durante o século XVI foram importados em grande quantidade para Portugal e aplicados em igrejas e palácios.

Vide exemplar no Pátio das Carrancas no Palácio de Sintra.
Os desenhos destes azulejos mantinham a influência das decorações árabes e reproduziam as laçarias e os esquemas geométricos.

Nos finais do Séc. XVI surge um avanço técnico decisivo: graças à utilização do esmalte estanífero branco e dos pigmentos metálicos, passou a ser possível pintar directamente sobre o vidrado. Esta nova técnica ficou conhecida pelo nome de "majólica”.
Foi abolido tudo quanto pudesse lembrar a arte islâmica. O desenvolvimento da cerâmica em Itália com a possibilidade de se pintar directamente sobre o azulejo, em técnica de majólica, permitiu alargar a realização de composições com diversas figurações, historiadas e decorativas.
Para Portugal fizeram-se encomendas na Flandres e a fixação de ceramistas flamengos em Lisboa marcou o início de uma produção portuguesa a partir da segunda metade do século XVI.

Séculos XVII e XVIII

Nesta altura em Portugal cultivava-se o gosto por revestimentos cerâmicos monumentais em igrejas e palácios. O azulejo é aproveitado ao máximo como material decorativo. Só que como a encomenda de grandes painéis únicos e adequadas a cada espaço era muito cara, optava-se frequentemente por azulejos de repetição. Surgiram os “tapetes”, formados pela repetição de padrões policroma que resultavam de combinações de um número variável de azulejos, formando quadrados de 4, 16, 36 ou mais elementos.

Os pintores de azulejos serviam-se de gravuras de ornamentos que lhes chegavam da Europa e também de tecidos exóticos estampados vindos da Índia, para criarem revestimentos cerâmicos destinados a grandes superfícies.
Vide Palácio dos Marqueses de Fronteira, em Lisboa, com exemplares mais significativos desta época http://www2.guiadacidade.com/portugal/index.php?G=monumentos.ver&artid=16629&distritoid=11.

A partir do último quartel do Séc. XVII começaram a surgir vários padrões de “tapetes” reproduzidos a azul e branco. Foi uma influência da porcelana da China que era dessa cor, e dos Holandeses a quem comprámos durante algum tempo conjuntos monumentais de azulejos (a última importação é de 1715) e que usavam muito a cor azul.
Para além dos grandes painéis figurativos, chegaram-nos também dos Países Baixos azulejos comuns, chamados de “figura avulsa", cada um representando uma cena autónoma.

Apareceu também o azulejo historiado, representando cenários.
Os palácios – depois de 1640, quando Portugal reconquistou a sua independência – foram revestidos com painéis de azulejo representando batalhas, caçadas ou cenas da vida quotidiana.

Nas entradas e escadarias dos palácios mais ricos aparecem as “figuras de convite”, que representam porteiros ou soldados armados. Nas igrejas e nos conventos os azulejos representam cenas do Velho e do Novo Testamento e contam episódios da vida dos Santos, em séries de painéis que quase lembram uma narrativa em banda desenhada.
O convento dos Lóios, em Arraiolos, é um exemplo da azulejaria desta época.

No início do Séc. XVIII e durante o reinado de D. João V, o pintor de azulejo assumiu o estatuto de artista, assinando com frequência os seus painéis. Era o “Ciclo dos Mestres” e da grande produção de azulejos.


O azulejo na época pombalina (do Marquês de Pombal) após a morte de D. João V, foi influenciado pelo estilo rocócó. Os desenhos típicos passaram a ser os concheados irregulares em dois tons de azul em contraste. Depois passaram a usar-se várias cores. Os painéis figurativos da época mostram muitas cenas galantes e bucólicas.

O Terramoto que destruiu Lisboa em 1755 obrigou à reconstrução da cidade. Durante a reconstrução o Marquês do Pombal incentivou a produção de azulejos (eram baratos, higiénicos e resistentes).

O azulejo usado nesta época ficou conhecido como pombalino. Eram azulejos de padronagem policroma, com desenhos simples, muito decorativos.

Na segunda metade do Séc. XVIII e principalmente depois do Terramoto e em Lisboa, passaram a ver-se os registos de santos, pequenos painéis que eram colocados nas fachadas para obter protecção contra as catástrofes. As que aparecem com mais frequência são as do Santo António, protector da cidade de Lisboa e de São Marçal, o santo invocado contra os incêndios.
Por volta de 1780, já no reinado de D. Maria I, surge o estilo neo-clássico. O “estilo D. Maria” como ficou conhecido em Portugal e que durou até ao princípio do Séc. XIX.
Os azulejos passaram a representar florões, grinaldas, plumas e medalhões com paisagens.

Séculos XIX e XX

Em meados do Séc. XIX a azulejaria passou a ter uma utilização diferente, passou a revestir fachadas dos prédios.

Nas primeiras décadas do Séc. XX o azulejo foi influenciado pela Art Nova, que aparece nos trabalhos de Rafael Bordalo Pinheiro.

A partir de 1950, os artistas plásticos portugueses começaram a interessar-se pela utilização do azulejo. Destacaram-se Maria Keil, Manuel Cargaleiro, Querubim Lapa e Eduardo Nery.
O Metropolitano de Lisboa é grande responsável pela aplicação monumental dos azulejos, tendo encomendado a grandes artistas como Vieira da Silva e Júlio Pomar, o revestimento das actuais estações de metro.